segunda-feira, abril 20, 2009

VICTIMS OF THE DANCE

Era antes da Internet: um recanto
do Blitz onde se expunham ou partilhavam
(des)prazeres, um improviso conjunto
de refrências que nos pudesse
aproximar de alguém,
nem que fosse de nós próprios.

Estávamos, como sempre, demasiado sós,
entregues a províncias e desgostos
incomuns, mesmo quando batiam certo
os nomes, os sinais de alarme que
- entre ninguém e ninguém -
desbravavam uma espécie de caminho.

Conheci, em suma, dezenas de pessoas.
Às cartas seguia-se fatalmente o rosto,
surpresa por vezes dolorosa (outras vezes não).
Ninguém, de qualquer modo, queria ser ninguém.
Antes presentes ou futuros poetas, romancistas,
compositores, artistas plásticos, timineiros.

Se nenhum deles, a acreditar no Google, deixou cadastro
cultural foi porque a vida, ou nem sequer a vida,
sabotou as adolescências de que fui breve testemunha.
E não ignoro que este vestígio incerto vale menos
do que o silêncio com que me escreviam
há quase vinte anos. Quando não havia e-mail.

Manuel de Freitas
Walkmen (& etc, 2007)