sábado, julho 07, 2007

INDULGÊNCIA PLENÁRIA

Sentado no Boeing da Armavia, à espera que descolasse do aeroporto de Schiphol com destino a Yerevan, tirei da pasta um dos livros que trouxe para os tempos de viagem e de espera que me libertam de outras preocupações pela simples constatação de que felizmente não lhes posso acudir com a intenção de ver se seria este o livro de poesia que gostaria de incluir no terceiro ciclo sobre Justiça e Literatura que estou a planear. Os dois primeiros concretizei-os no CEJ enquanto por lá andava, este vai ser em Coimbra, numa organização da República do Direito.
Por coincidência, Indulgência Plenária, de Alberto Pimenta (edições &etc, 2007), começa assim:
conheci-te no mictório
do aeroporto de Schiphol
águas mais praticadas
que as do Paraíso de Dante
Lá dentro estava só eu
de carcela aberta
e o urinol diante de mim
entraste subitamente
não sei se olhaste e me viste
Subitamente estavas ali
tu e os teus bandós louros
debruçada sobre outro urinol
Um livro de poesia sobre Gisberta
(tanto esforço perdido Gisberta Salce
até para os que te mataram
que nem conseguiram tirar o proveito monumental
que procuravam
Servir-se de ti para perder o medo
sentir-se Pessoas livres
como tu)
de que tinha lido uma recensão num suplemento literário de um jornal, penso que da autoria de Manuel de Freitas, e que, atendendo ao tema, me interessou ler, pois não sou entusiasta da obra do autor embora me tenham vindo parar às mãos as suas últimas edições.
Continuei a não ser entusiasta, e afastei a ideia de poder ser este o livro de poesia que gostaria de ter no ciclo.
Mas, deixo aqui dois momentos que penso valer a pena partilhar com quem aqui vier:
Conversas sobrepostas
que abriam com a lua-nova do pôr-do-sol
e fechavam Quando vinha
o sol nascente
assassinar o brilho da Lua-cheia
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Um dia seria inevitável
seres Tu a vítima afogada
nessa emotiva troca de silêncios e falas
que só falavam nas formas
que emprestavas à carne