TOMÁS SEGOVIA
Entre as tépidas coxas te palpita
um negro coração febril, fendido,
de remoto e sonâmbulo latido
que entre outras raízes se suscita:
um coração felpudo que me incita,
mais que outro cordial e estremecido,
a entrar como na casa em que resido
até tocar o grito que te habita.
E quando jazes toda nua, quando
ávida as pernas abres palpitando,
e até ao fundo, em frente a mim, te fendes,
um coração podes abrir, e se encontro
com a língua nas entranhas que me estendes,
posso beijar teu coração por dentro.
tradução de David Mourão Ferreira
(Vozes da Poesia Europeia - III)
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