sexta-feira, junho 02, 2006

OCORRE-ME TROPEÇAR

Ocorre-me tropeçar em ti numa linha
que escrevi noutra idade - tão discreta
é a tua presença que ninguém
a não ser eu te poderá descobrir.
E sinto-me grato, como também o estou
ao gato do quintal ou às gaivotas
que esgravatam em tantos versos meus
à procura de sol fresco para alimento.
"É o seu peito, a sua boca", digo então,
e na penumbra do quarto por instantes
brilha de novo o corpo do desejo.

Eugénio de Andrade
O Sal da Língua (1ªed. - Novembro 1995)

1 Comments:

At quarta-feira, 07 junho, 2006, Blogger Sub-Lodo said...

"MÃE" é o meu favorito de Eugénio de Andrade. Mas muito bom este poema, sem dúvida. Com a morte de Eugénio, perdeu-se mais um membro de uma nova "Ínclita Geração", esta do século XX, de poetas portugueses.

 

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