quinta-feira, maio 11, 2006

DAMA EM FRENTE DO ESPELHO

Como especiarias num narcótico,
solta leve no fluente-claro
espelho os gestos cansados;
e põe todo o sorriso lá dentro.

E espera, até que o fluido
cresça; então lança os cabelos
no espelho e, erguendo os ombros
admiráveis do vestido de noite,

bebe em silêncio da sua imagem. Bebe
o que um amante beberia em vertigem,
crítica, desconfiada; e só acena

à criada, quando lá no fundo
do espelho vê luzes, armários
e o baço duma hora tardia.

Rainer Maria Rilke
Poemas. As Elegias de Duino e Sonetos a Orfeu
Tradução de Paulo Quintela
Ed. Oiro do Dia - 1983

1 Comments:

At sexta-feira, 12 maio, 2006, Blogger M.C.R. said...

Grande Paulo Quintela!

 

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