DAMA EM FRENTE DO ESPELHO
Como especiarias num narcótico,
solta leve no fluente-claro
espelho os gestos cansados;
e põe todo o sorriso lá dentro.
E espera, até que o fluido
cresça; então lança os cabelos
no espelho e, erguendo os ombros
admiráveis do vestido de noite,
bebe em silêncio da sua imagem. Bebe
o que um amante beberia em vertigem,
crítica, desconfiada; e só acena
à criada, quando lá no fundo
do espelho vê luzes, armários
e o baço duma hora tardia.
Rainer Maria Rilke
Poemas. As Elegias de Duino e Sonetos a Orfeu
Tradução de Paulo Quintela
Ed. Oiro do Dia - 1983
1 Comments:
Grande Paulo Quintela!
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