terça-feira, novembro 22, 2005

MANUAL TIPOGRÁFICO de GIAMBATTISTA BODONI

De quando em vez volto ao texto introdutório do Manuale Tipografico del Cavaliere Giambattista Bodoni, editado em Parma, em 1818, na edição em português, com a chancela Almedina, da responsabilidade de João Bicker, um biólogo que se deixou seduzir pelas artes gráficas, com quem tenho tido o prazer de conversar, e aprender, sobre grafismo, produção e edição de livros.
Bodoni, nascido em 1740, foi um grande tipógrafo, que criou os seus próprios caracteres partindo dos tipos de Fournier, fundiu-lhes as punções, foi um “inimigo da profusão de cercaduras e ornamentação que distraísse a atenção do texto limpo e puro” e dirigiu a imprensa real de Fernando de Bourbon, duque de Parma.

Fica aqui um extracto, sobre a edição:
"A ideia de Belo não se deve confundir, de forma alguma, com as ideias de Bom e de Útil. São, apesar disso, três diversos aspectos de uma mesma coisa, vista de três pontos diferentes. A impressão de um bom livro é tanto mais proveitosa, quanto mais leitores atrair, quanto mais leituras suscitar, quanto maior for o prazer de quem lê, e quanto maior for a rapidez com que o faz. Se um livro é bom, com o aumento do número de leituras, aumenta também o prazer e o proveito do espírito. E a sua própria adaptação aos nossos olhos, razão pela qual uma impressão é mais legível do que outra, contribui para a sua beleza, pois uma certa proporção de partes, uma certa sedução e um certo esplendor deleitam o olhar, e não só à primeira vista, mas a longo termo. Como, muitas vezes, temos de ter um mesmo livro diante dos olhos durante bastante tempo, se ele começa a ser menos agradável à vista, de tal forma que, mais cedo ou mais tarde, acaba por se tornar enfadonho, então a sua impressão será tida por menos bela. E se nem todos os olhos podem ficar igualmente satisfeitos, ou insatisfeitos, com uma mesma impressão, em virtude das grandes diferenças entre as capacidades visuais de cada um, esse é um dos motivos pelos quais de forma alguma os livros se devem imprimir todos de modo idêntico, pelo que há que distinguir, nas edições, três diversas maneiras ou três diversos estilos de beleza, o esplêndido, nas grandes, melhores para os Presbíopes, o elegante, nas pequenas, melhor para os Míopes, e o das médias, livros que geralmente agradam a todos, a que chamaremos, simplesmente, belo.
Os Presbíopes, que têm de afastar os olhos do objecto observado para o verem distintamente, num relance apreciam a beleza de uma grande página magnificamente impressa, a qual os Míopes só podem admirar parte por parte, forçados a manter os olhos muito próximos dela, se não querem ver os caracteres de forma indistinta. Aqueles não conseguem levar por diante a leitura de uma escrita miúda, ao passo que estes, pelo contrário, em vez de com ela se cansarem, com ela se deleitam, desde que seja nítida e bem desenhada. Os Míopes que se dedicam ao estudo são, assim, compensados, e de forma não irrelevante, pela sua menor aptidão para fruir, através do olhar, o que de mais espantoso ou o de que mais atraente há em edifícios, paisagens e objectos em movimento. Na verdade, é, em particular, para eles, que são feitas aquelas impressões tão belas como pequenas, dos Rovigli, dos Giansoni, dos Elzevir, e de quantos com eles competem na feitura de elegantes volumezinhos que contêm os maiores escritos de qualquer língua. Por consequência, pode-se criar uma boa biblioteca, facilmente manuseável e bem apetrechada, cujo peso não seja de muitas libras. Além de ser bastante prática, especialmente para quem deve mudar de casa com frequência, tem a vantagem de ser menos dispendiosa. Assim, com as edições que designei de elegantes, pode-se economizar, o que já não é possível para quem desejar livros grandes, que se podem considerar belos, como um Terêncio, um Virgílio, um Horácio, um Juvenal ou um Pérsio impressos no Louvre".


Esta edição portuguesa é um livro elegante!