O ARRUMAR DOS PAPÉIS (7)
Em 1999, nos 25 anos do 25 de Abril, em Guimarães, as Padarias Pavico conjuntamente com a Biblioteca Municipal Raul Brandão editaram sacos de papel para pão com poesia e as biografias dos respectivos autores, que os clientes daqueles estabelecimentos de panificação levavam contendo o papo-seco, o cacete, a broa, o pão de centeio, etc.
A iniciativa chamou-se Pão com Liberdade e os poetas divulgados foram Sophia de Mello Breyner, Pablo Neruda, Bertolt Brecht, Jorge de Sena, Fernando Pessoa e Alberto Pimenta.
Pena é que não tenha sido repetida, ali e noutros lugares.
Reproduzo o poema escolhido para o saco do cacete.
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
De uma vida limpa
E dum tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen
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