sexta-feira, agosto 05, 2005

PORQUE É QUE O PAÍS NÃO PÁRA DE ARDER?

Repetindo-se o cenário dos últimos anos, o país continua a arder e as televisões continuam a dar grande cobertura às chamas e à dor e sofrimento das pessoas cujos bens perigam ou foram mesmo atingidos.
O que há este ano de diferente é que deixou de ser tema de disputa político-partidária, o que, sinceramente, não sei se é bom se é mau.
A questão dos incêndios é uma catástrofe nacional, cujas razões é urgente esclarecer. A detenção de alguns indivíduos que suposta ou confessadamente atearam fogos e o perfil do incendiário que a Polícia Judiciária vem divulgando – no fundo, um homem de meia-idade, vulgar de lineu, que actuará por motivos fúteis – não chega. A explicação não pode estar toda, se é que está na sua maior parte, em actos isolados de índole criminosa.
O problema está no estado de abandono das matas, associado às altíssimas temperaturas e ventos fortes?
O problema está no mau ordenamento florestal, na proliferação de eucaliptos que ardem que nem fósforos e cujas folhas são projectadas a arder a grande distância provocando novos fogos?
O problema está em interesses económicos da madeira, ou da construção civil?
O problema está na indústria do fogo e nos focos de poder local e na indústria e serviços que se têm robustecido com anos e anos sucessivos de grandes fogos florestais?
O Ministro António Costa disse hoje que, paralelamente ao esforço de apagar os fogos, se deve continuar a fazer prevenção. Acrescentarei que, também simultaneamente, se devem esclarecer, apurar as causas desta calamidade, não se fazendo passar a ideia de que é uma mera questão de conseguir deter mais uns delinquentes por conta própria que por aí andam a atear fogo. Para isso, as televisões podiam dar um importante contributo, substituindo a apresentação maciça de imagens do fogo (esquecendo-se os seus responsáveis das questões que a esse propósito já no ano passado foram levantadas) e o desrespeito pelo sofrimento das pessoas prejudicadas, por programas pedagógicos e de debate sobre este problema, contribuindo, assim sim, para a formação cívica e o esclarecimento democrático.