FRANCISCO JOSÉ TENREIRO (1921 - 1963)
Natural de S.Tomé, poeta da negritude, dele deixo aqui MESTIÇO, em homenagem à voz da literatura africana de expressão portuguesa que se fez ouvir durante o período de dominação colonial.
Mestiço!
Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como que se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.
Mestiço!
E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição.
Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.
Ah!
mas eu não me danei...
e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!...
Mestiço!
Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro ...
Pois é...
in Romanceiro
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