terça-feira, agosto 09, 2005

FRANCISCO JOSÉ TENREIRO (1921 - 1963)

Natural de S.Tomé, poeta da negritude, dele deixo aqui MESTIÇO, em homenagem à voz da literatura africana de expressão portuguesa que se fez ouvir durante o período de dominação colonial.


Mestiço!


Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como que se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.


Mestiço!


E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição.


Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.


Ah!
mas eu não me danei...
e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!...


Mestiço!


Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro ...
Pois é...
in Romanceiro