quinta-feira, agosto 11, 2005

COIMBRA COM MAIS UMA ESTÁTUA

A estatuária que tem sido espalhada por Coimbra nos últimos anos é um pavor. A falta de escala dos “oferecidos à cidade” Papa João Paulo II que está nos Arcos do Jardim (de um mestre medalhista, mas não escultor) e Bissaya Barreto que está no Rossio de Santa Clara (de um pintor de reconhecida obra, também no azulejo, mas não como escultor), o piroso piano com um menino nu em cima a tocar trombone (adquirido pela Câmara Municipal a este último) que foi colocado na chamada Praça da Canção vulgo “Queimódromo”, a tétrica composição de peças do corpo humano que também alguém ofereceu e foi pousada no exterior do cemitério da Conchada – são exemplos que deixam os conimbricenses como eu de rabo escaldado.
Recentemente fiquei estarrecido quando li que um dos candidatos à autarquia apresentava como um dos seus projectos emblemáticos erguer na Praça da República uma estátua ao estudante de Coimbra. Acalmei porque acho pouco provável que venha a erguer seja o que for.
Agora foi oferecida nova estátua à cidade. A de Manuel Alegre, da autoria do escultor Francisco Simões. A vida, para a minha sensibilidade, vai melhor com o retrato, mas qualquer objecção caberia ao próprio a exemplo do que fez o Herberto Hélder no Parque dos Poetas de Oeiras. De Francisco Simões só conheço o conjunto escultórico feito sobre o Amor Feliz de David Mourão-Ferreira. E gosto! Embora tenha ficado um bocado desconfiado ao ler que havia uma capa que saía do corpo e se transformava numa asa, se bem me lembro. É que, apesar de nado e criado na Ferreira Borges, simpatizo mais com a Coimbra do Fernando Assis Pacheco:

Não tive nunca nada a ver com as
guitarras estudantes: eu vivia
num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos das


pessoas de regresso a suas casas
fazia compras na mercearia
e algum livro mais forte que então lia
já era para mim como um par d’asas


amigos vinham ver-me que eu servia
de ponche ou de Madeira malvasia
para soltar as línguas livremente


um que bramava um outro que dormia
eu abria a janela e só dizia
ao menos estas ruas têm gente.

*Louvor ao Bairro dos Olivais